Chamava-se Netvascão – o atual SUPERVASCO. Ali comecei a escrever textos e mais textos e mais textos sobre jogos, títulos, partidas e jogadores.
A fase era boa. O Vasco era campeão carioca, brasileiro, da Libertadores, da Mercosul, do Torneio Rio São Paulo. Eu era sócio proprietário do clube desde 1988, tudo parecia ser minha casa.
Ano 2023 e recebo novamente uma chamada telefônica. Desta vez, de dentro do próprio clube. Agora o convite é pra ser o primeiro colunista do site oficial do Vasco.
Liberdade criativa. Posso escrever o que quiser e dar o nome que eu quiser a esta coluna. Num bate-papo com meu amigo de Vasco, de Vila Isabel e de outras aventuras pitorescas Rogerio Portugal, sai a ideia que dá nome ao projeto:
“Cara, não se prenda a futebol. Maneiro é você falar pros torcedores sobre O QUE O VASCO É!”
Vi poesia na espontaneidade das palavras. Falar do que o Vasco é soa quase como que falar do que eu também sou na vida. Porque já fui tantas vezes campeão, algumas vezes rebaixado, já saí de campo aclamado, outras vezes vaiado, pra muitos um gigante, pra outros talvez um nada…mas a gente é isso aí, errando e acertando, ganhando e perdendo jogos. E a gente nunca deixa de seguir adiante!
A diferença da gente pro nosso Vasco é que ele é eterno.
Procurei em muitos lugares e achei clubes que tivessem “estádio”, “arena”. Mas nenhum tem “Colina Histórica”. Porque o Vasco, antes mesmo de ser tudo isso que a gente estampa orgulhosa e apaixonadamente na camisa como time, destravou amarras do país, lançou-se imponente como quem assume a pena e escreve o livro…desbravou mares do ocultismo que ainda se movem nas mazelas de nosso patropi!
O Vasco brasileiro e carioca subverteu a regra, descolonizou-se e “colonizou o colonizador”: quem poderia imaginar que um clube de portugueses fosse se erigir na “Pequena África” do Centro do Rio, se alojar entre duas favelas de população preta e suburbana, congregar comerciantes e operários e afirmar o direito do jogador negro de ser atleta, herói e rei?!
A força do Vasco é absurda!
O Vasco é Vasco porque encara o Brasil! Não o Brasil que queremos, mas o Brasil do racismo, da impunidade, da segregação, do supremacismo, do elitismo, da imundície! Encara de frente, peito aberto, grito afiado; e mesmo corroído por dentro e por fora, sobrevive!
Quando pensam que o Vasco acaba…ele se duplica!
Você que é vascaíno está entendendo o que eu falei! Hoje somos dois…e todos (eu, vocês e eleS) somos UM!
A gente vai passar um bom tempo aqui falando do que o Vasco é. Não porque isso ganhe jogo, porque ganhar jogo (sem trocadilho) é outro departamento! A gente vai falar do que o Vasco é pra lembrar, também, do que nós somos, do que sabemos que somos, do que somos porque conquistamos, e ninguém tira da gente o que temos de mais verdadeiro, singelo e peculiar!
“Por mares nunca dantes navegador…”
Vem comigo…você topa viajar com o Almirante?
*Foto de fundo: Matheus Lima