Club de Regatas Vasco da Gama

CR VASCO DA GAMA

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Esporte e sua contribuição para a Educação nos dias de hoje

Melhorar o foco, a comunicação, o senso de coletividade, socialização e desenvolver a capacidade motora, cognitiva e emocional. Estes são alguns dos “benefícios clássicos” considerados como consenso entre educadores, pais e profissionais envolvidos no esporte e sua aplicação na educação infantil.

Como ferramenta educacional, apresentar uma criança a um esporte específico é, de certa forma, apresentá-la a um conjunto de movimentos corporais, regras, táticas, técnicas e também a uma cultura diferente. A prática do esporte está totalmente conectada com a cultura de cada sociedade, sendo a cultura um elemento da educação e o esporte, como a produção desta cultura.

Mas o que mais será que o esporte tem mais para contribuir na educação infantil nos dias de hoje?

Relação da Criança com Esporte vem mudando...

Voltando algumas décadas atrás, antes do mundo globalizado e conectado, a prática de esportes e atividades físicas em geral tinham outro peso na vida das crianças. Nascido na década de 80, lembro que boa parte de minha rotina e de meus amigos era de ficarmos na rua jogando futebol e nas diversas brincadeiras comuns como: “polícia e ladrão”, “taco”, “queimada”, “pique pega”, “pique esconde” e outros tantos “piques”. Fato era que vivíamos na rua (no meu caso, no subúrbio do Rio de Janeiro) em um mundo onde não havia ainda internet, jogos eletrônicos e aplicativos de redes sociais nos distraindo.

Após a evolução tecnológica e toda indústria de jogos e soluções para atrair nossa atenção, o estilo de vida das crianças foi mudando com o passar dos anos. E parte do tempo que era utilizado com atividades físicas, brincadeiras e esportes, hoje é destinado para tecnologia. Segundo estudos recentes, cada vez mais as crianças têm preferido brincadeiras com pouco ou nenhum movimento.

Inclusive, esta mudança é apontada hoje como um dos maiores fatores de aumento nas taxas de obesidade e sobrepeso, segundo estudo encomendado pelo Ministério da Saúde (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI – 2019).

O sonho das crianças de serem atletas parece ter sido atualizado ao longo dos anos. Agora, muitas sonham em serem tiktokers, youtubers, gamers ou influencers.

Impactos na Saúde mental impas para o futebol e a eternidade.

Esta mudança de cultura tem impacto direto também na saúde mental da criança. Você já deve ter ouvido alguém falar sobre a relação direta que a prática de esportes teve em sua sensação de Bem-estar. Pois é isto é comprovado cientificamente já que diversas pesquisas recentes relacionam esporte com redução de estresse, combate à depressão, prevenção de TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), melhora na autoestima, entre outros.

A atividade física relacionada ao esporte auxilia na produção de neurotransmissores que ajudam a regular nosso sono, digestão, pressão sanguínea e diversos outros processos do corpo. Neuro-hormônios como a Endorfina promovem a sensação de recompensa e bem-estar, inibindo o estresse, irritação e ansiedade. Já a Serotonina, conhecida com o hormônio da felicidade, nos fornece maior estabilidade emocional, regulação de humor, ritmo cardíaco.

Antes mesmo de todo confinamento ocasionado pela pandemia Covid-19, o Brasil já figurava entre listas nada animadoras de nº de casos de transtornos relacionados à saúde mental. Estamos na lista de países com maior número de casos de pessoas sofrendo com ansiedade e depressão e após a pandemia, estes casos só vem aumentando, tornando a prática de esportes ainda mais importante para crianças, adolescentes, jovens de uma geração (des)conectada e (des)equilibrada mentalmente.  

E existe diferença entre praticar um esporte individual ou coletivo?

Segundo estudo recente (2022) de pesquisadores da Universidade Estadual da Califórnia, nos Estados Unidos, crianças que praticam esportes individuais (ex: ginástica, corrida, tênis) possuem maiores chances de sofrerem com depressão ou ansiedade do que as que praticam esportes coletivos (ex: basquete, futebol e vôlei). Mais de 11 mil participantes entre 9 e 13 anos fizeram parte deste estudo.

Dentre os insights do estudo que ainda serão investigados, os pesquisadores estão relacionando os benefícios que o senso de proximidade e união das crianças que praticam esportes coletivos acabam contribuindo para suas habilidades sociais e uma maior sensação de bem-estar.

Por outro lado, esportes individuais tendem a aumentar a expectativa e pressão por bom desempenho do atleta, causando maior estresse e ansiedade.

O esporte também trazer pautas sociais importantes de igualdade, diversidade e inclusão.

Se o esporte é uma ferramenta de produção cultural de uma região, ele também é uma forma de apresentar para as crianças o “pedaço de mundo” que elas estão inseridas. Assim sendo, o clube, os educadores, pais, mães, todos podem contribuir para apresentar de uma forma que as ajude a entender seu papel e como elas podem contribuir para uma sociedade mais inclusa, diversa e mais respeitosa.

Se educar é um ato político, o esporte, como elemento educacional, também é.

Daí, temas Diversidade e Inclusão tem vindo cada vez mais à tona dentro da educação, das organizações e também do esporte.

O próprio Vasco da Gama, como clube de massa no Brasil, tem retomado ao lugar que sempre lhe foi reconhecido como instituição que luta pela redução das desigualdades. Além de toda história do Vasco contra o racismo, do marco com a resposta histórica, o clube também tem abraçado outras pautas sociais importantes, sendo espelho para a nova geração.

Em 2021, o clube lancou uma camisa em homenagem à comunidade LGBTQPIAPN+, assumindo também uma postura de combate à homofobia e transfobia. A camisa foi inclusive escolhida como um dos dez itens a serem expostos em uma exposição do Museu Histórico Nacional como itens que representam a construção de novas narrativas e representatividades.

Além do racismo, homogobia, transfobia, o esporte deve ser um meio para entendimento, conscientização destes temas e outros tão importantes como as pautas de igualdade de gênero e inclusão, trazendo luz para a violência nos estádios, violência doméstica, machismo, capacitismo, intolerância religiosa e outros que traremos em breve aqui para vocês.

Se queremos um mundo um pouquinho melhor, talvez a melhor forma de contribuirmos será com a educação de crianças, jovens e adolescentes que são a esperança para a transformação que queremos enxergar no futuro.  E o esporte, por sua magia, seu poder de capilarização, de acessar emoções e sonhos destas crianças, tem um papel fundamental nesta mudança. 

Sobre Marcelo Correia

Pai de Liz e Júlia, músico, escritor infantil, diretor do Coletivo Ser Cabra Macho e Vascaíno.

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