Nelson

Nome: Nelson da Conceição

Nascimento: 12/08/1898, Nova Friburgo/RJ

Falecimento: 24/05/1942, Rio de Janeiro/RJ

Pai: Trajano Florentino da Conceição

Mãe: Carlota Florentina Laura da Conceição

Local de trabalho: Casa Alberto (Chapelaria, roupas e demais itens)

Endereço de trabalho: Praça da República, n.o 66

Posição: Goleiro

Nelson foi o primeiro goleiro campeão pelo Vasco com a equipe principal, primeiro jogador vascaíno convocado para a Seleção Brasileira (juntamente com Paschoal e Torterolli) e primeiro goleiro negro a atuar nas seleções brasileira e carioca. Na sua vida de uma forma geral, mas especialmente no âmbito do futebol institucionalizado, Nelson da Conceição enfrentou o racismo e o preconceito social da sociedade brasileira, representados nas práticas preconceituosas de dirigentes e torcedores rivais.  Iniciou sua carreira futebolística em 1915, no Paladino Football Club, agremiação filiada à então Liga Metropolitana de Sports Athleticos. Por pouco não foi goleiro do Paladino contra o Vasco, na partida de estreia da agremiação vascaína em jogos oficiais, vencido pelos rivais por 10 a 1. No Engenho de Dentro Athletico Club, se tornou tricampeão da Liga Suburbana (1916-1917-1918), a maior de todas as ligas do subúrbio. Em 1919, o Vasco foi buscar aquele que era visto como o melhor goleiro das agremiações suburbanas: Nelson da Conceição.

Atuando pelo tricampeão suburbano, os periódicos já destacavam o seu apelido de Chauffeur, por ser taxista no bairro de Engenho de Dentro. Quando surgiu a notícia de que o goleiro passaria a atuar no campeonato da Liga Metropolitana pelo Vasco, parte dos jornais cariocas fez questão de realçar o fato do goleiro ser um Chauffeur, ou seja, desempenhava atividade profissional que na época era considerada incondizente com a moralidade da prática do futebol na liga das elites cariocas, por ser uma profissão meramente braçal e subalterna para aqueles que comandavam a Liga Metropolitana. Além disso, jornais e revistas publicavam caricaturas onde eram exageradas as suas características raciais. Defendendo a Cruz de Malta, Nelson passou a trabalhar como empregado do comércio na Casa Alberto, chapelaria do dirigente vascaíno Alberto Balthazar Portella. O goleiro ficou muito próximo da família Portella, possuindo um carinho especial pela madrinha do time, a Sra. Avelina Fernandes Portella. Aos domingos, almoçava na casa da tradicional família vascaína. 

Nelson foi titular absoluto do gol vascaíno de 1919 a 1927. No Campeonato Carioca de 1923, na primeira participação da agremiação vascaína na elite do futebol carioca, o Vasco conquistou o título e Nelson mereceu francos elogios do público e da imprensa, pois foi um dos principais responsáveis pelo triunfo da agremiação vascaína. Era o jogador titular mais antigo defendendo a camisa vascaína e esteve presente nas 14 partidas realizadas pelo Clube. O goleiro compôs a melhor zaga da competição, com os zagueiros Leitão, Claudio e Mingote. Reconhecido como o melhor “keeper” do campeonato, foi convocado como titular da Seleção Carioca que disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de 1923 e da Seleção Brasileira, que excursionou para  o Uruguai e a Argentina no final daquele ano. 

Em terras uruguaias, o selecionado nacional participou do Campeonato Sul-Americano de Seleções. Nelson foi o destaque, com atuações consideradas impecáveis, apesar do desempenho fraco da seleção na competição. Em Montevidéu, no dia 22 de novembro, foi fundamental para a conquista da Taça Rodrigues Alves, vencida sobre o Paraguai. Em Buenos Aires, no dia 02 de dezembro, Nelson conquistou a Taça Confraternidad sobre a Argentina. Na disputa da Copa Roca, ainda em território argentino, Nelson evitou um placar mais elástico na vitória dos rivais por 2 a 0, sendo ovacionado pelo público presente, com relatos de ter sido erguido para o alto por torcedores, tamanha a atuação do ídolo vascaíno.

Em 1924, ano em que houve a cisão do futebol carioca em duas entidades, que gerou o episódio conhecido como “Resposta histórica”,  escapou do pedido de exclusão por parte da Comissão Organizadora da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos graças ao seu altíssimo rendimento esportivo, que o levou a defender as cores da Seleção Brasileira. Na disputa do Campeonato Carioca de 1924, organizado pela Liga Metropolitana, Nelson ajudou o Vasco a ser novamente campeão, dessa vez de maneira invicta, conquistando em definitivo a Taça Constantino. 

Em 1925, antes da construção de São Januário, que só seria inaugurado em 1927, o Vasco passou a disputar o campeonato da AMEA, a entidade que havia sido fundada pelos clubes da elite em 1924, e optou por mandar seus jogos no Estádio das Laranjeiras. Em suas crônicas, Mário Filho relata que os torcedores e sócios do Fluminense iam para trás da baliza de Nelson para provocá-lo com insultos. O Vasco fez queixa, mas como de nada adiantou, decidiu trocar o mando para o campo do Flamengo, na rua Paissandu. A situação piorou, pois as traves do acanhado estádio eram quase coladas na grade. Além de desaforos, Nelson tinha de aturar as pedras que eram jogadas pelos sócios do Flamengo, que se agrupavam atrás dele. Quando a pedra batia nas suas costas na hora em que ele ia fazer uma defesa, era quase gol certo. 

O Vasco teve que mudar de campo outra vez, foi para o Andaray, e somente torcedor com o escudo da Cruz de Malta no peito era permitido atrás do gol de Nelson. Somente assim, enfim, o grande goleiro teve paz. No início desse mesmo ano, Nelson da Conceição ganhou a faixa de capitão da equipe vascaína, herdando-a de Negrito, após uma reunião dos jogadores e dirigentes. Era a demonstração do prestígio que o goleiro tinha com os demais jogadores e dentro do próprio Clube. As práticas preconceituosas dos torcedores rivais serviram como mais um incentivo para que o Vasco se mobilizasse para ter o seu próprio estádio. No dia 21 de abril de 1927, quando o Clube inaugurou São Januário, então maior estádio da América do Sul, teve o privilégio de contar com Nelson, o seu primeiro grande ídolo no futebol. 

Nelson da Conceição, mesmo após sua saída do Vasco em 1928, continuou sócio do Club de Regatas Vasco da Gama. Em 21 de julho de 1929, o goleiro defendia as cores do Bangu. Para atuar pelo clube da Zona Oeste do Rio de Janeiro contra o Vasco, em jogo válido pelo Campeonato Carioca daquele ano, Nelson enviou um ofício ao Clube, com o objetivo de consultar a possibilidade de enfrentar a agremiação vascaína. O Vasco concedeu a licença ao goleiro, sem que perdesse seus direitos associativos. Essa ação demonstra a boa relação mantida entre o atleta e o clube, após sua saída como atleta. 

A estreia de Nelson da Conceição pelo Vasco ocorreu no dia 23 de março de 1919, na vitória de 1 a 0 sobre o River/RJ, pelo Torneio Início da 2.ª Divisão da LMDT. A sua última partida defendendo o gol vascaíno foi no dia 17 de julho de 1927, na vitória de 2 a 1 sobre o America/RJ, em jogo válido pelo Campeonato Carioca. Nessa ocasião, a equipe vascaína venceu de virada, em Campos Sales. Na metade do segundo tempo, quando o jogo ainda estava empatado em 1 a 1, Nelson sofreu uma luxação em um dedo da mão esquerda, mas permaneceu firme no gol cruzmaltino, resistindo à forte pressão do ataque adversário, mesmo com dores. Seu sacrifício foi recompensado com a vitória nos minutos finais, obtida com o gol de Paschoal. No geral, Nelson da Conceição disputou 192 partidas pelo Vasco, obtendo 123 vitórias, 27 empates e 42 derrotas.

Nascido no dia 12 de agosto de 1898, Nelson da Conceição comemoraria 125 anos de vida. O grande ídolo do Vasco sagrou-se Campeão Carioca de 1923 no mesmo dia em que comemorava os seus 25 anos de existência. 

Títulos:

  • Campeonato da Série B da 1.ª Divisão (1922)
  • Campeonato Carioca (1923 / 1924 – invicto)
  • Torneio Início (1926)